terça-feira, 4 de agosto de 2009

Sem título

O filho estava para chegar em casa. Todos estavam a sua espera, era o dia de apresentar a namorada nova a todos da casa. Pai, mãe, irmãos, todo mundo estava aguardando ansioso, empolgados com a idéia de que Júlio finalmente ia desencalhar. Já com 43 anos de idade, o filho mais velho era considerado um caso perdido, ninguém esperava mais que a essa altura fosse encontrar uma companheira. “O moleque passou da época, vai viver agora só de trabalhar. O pobre coitado nem se dá ao trabalho de aparar os pelos do corpo mais, pois não lhe serviria de nada fazê-lo”, dizia o pai, seu Antônio, que se orgulhava de ter casado os outros dois, Alfredo e Cláudio, além de Estella, mas amargava o sofrimento de ver o primogênito solteirão.
Já a Mãe preferia tudo como está, não queria ver o filho enrolado com esposa nenhuma não. “o menino conquistou tudo; é rico, tem muita grana e sustenta todo mundo da família. Pra quê casar agora? Vai arrumar só problema, mulher aproveitadora”, afirmava a matriarca.
Os irmãos nem diziam que sim nem que não, ficavam em cima do muro. Muitas vezes apresentaram pretendentes, que vinham de todo canto, mas nunca deu em nada. Quando estava para dar certo com alguém, eles se metiam e diziam que não, que era melhor não arriscar. O rapaz, então, desistia e continuava solteiro.
Mas naquele dia, tudo iria mudar. Jason chega, uns vinte minutos atrasado, mas chega. Logo de cara apresenta a namorada: era o Geraldo, colega de faculdade por quem se apaixonara e mantivera um relacionamento escondido durante os anos de estudo. Rapaz alto, moreno, olhos claros, corpo musculoso, enfim, um gostosão. Jason é baixinho, bigodudo, feio, digamos; é claro, se considerarmos os padrões de beleza estabelecidos mundialmente pela mídia medíocre, mas que a gente adora.
“esta é a minha namorada”, afirma feliz e espontâneo como sempre. Mamãe grita, esbraveja e quebra alguns copos e pratos que estavam sobre a mesa. Os irmãos repreendem o garoto, como sempre e ignoram Geraldo. Mas Jason continua firme em seu propósito de integrar o rapaz à família. Sentam-se os dois a mesa (a pancadaria rolando solta, mas os dois começam a jantar) e esperam que o pai dê uma posição a respeito. Afinal, era ele quem dava as ordens e os pareceres da casa na maioria dos assuntos.
O velho fica calado por um tempo, uns cinco minutos. De repente, se levanta, dá uns passos em direção ao Geraldo, aproxima-se, dá-lhe uns beijos na boca, pega o rapaz pela mão e diz: - quer namorar comigo? – quero, responde Geraldo. Os dois saem de casa, pegam o carro e partem para bem longe dali.

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