quarta-feira, 29 de julho de 2009

Idiotices hidropônicas

Hoje a noite está um tédio, tédio hidropônico é claro. Fui expulso de casa, meu cachorro morreu, o amor da minha vida foi embora, levando tudo: meu dinheiro, meus bens, meus prédios, apartamentos, R$ 56 milhões que havia ganhado na megasena; sem contar na saúde, no coração, o travesseiro de que tanto gostava, enfim, tudo. Lembro-me do dia, era uma noite de verão. Eu, inocente, cheguei em casa após mais uma jornada extenuante de trabalho (eu sei que a palavra extenuante não era bem o que você queria ler, é muito formal, eu sei; mas ela vai ficar aí, seu leitor chato). Ela, sentada no sofá da sala, com uma faca na mão, me avisava:

- Passa tudo, agora, para o meu nome, se não eu mato o gato.
- O gato não, por quê o gato?!!, eu perguntava, com o sentimento de quem perde um ente querido.
- O gato, sim, ela dizia, certa de estar tocando o meu ponto mais fraco

O gato realmente era importante para mim. Amava-o mais que todos, mais que ela inclusive. Lembro-me de que quando eu estava triste, abatido, não me importava de sair do quarto onde estava com minha esposa e ir dormir com o danado, o Charles. O Charles fazia carinho, me abraçava, deixava espaço para mim na caminha dele; eu dormia confortável. Ele até vinha durante a noite me trazer comida, leite, me cobria e ainda perguntava se estava tudo bem. O Charles era meu melhor amigo. Enjoado, é verdade, gostava da melhor comida, do melhor lugar nos sofás da casa, um entojo, mas era companheiro, nunca me tratava mal, nunca me entristecia. Charles!!!, eu gritava assim que chegava em casa, e ele vinha se enroscar pra ganhar carinho. Eu falava primeiro com ele, depois com ela.
Acho que ela foi se cansando disso, sabe, meu amigo, companheiro, sempre presente, leitor. Parece que os anos foram se passando e ela começou a perceber que o gato tinha mais atenção, era mais mimado, mais bem tratado. E eu, que pensei disfarçar da melhor maneira, como fazem os agente secretos em suas missões realizadas às penas por estradas abandonadas, ruas fétidas e podres pela presença de animais e gente mortos, não percebia que ela percebia tudo; eu não percebia que nenhum de nós percebia que o outro não percebia e que na verdade ninguém percebia nada (leitor, faço aqui o uso mais que justo do meu direito de escritor e da liberdade literária. Se você não entendeu o que eu disse ou não concorda com a maneira como coloquei as palavras, que se dane, quem manda no texto sou eu. Se não estiver satisfeito, faça uso da sua liberdade de leitor e tente imaginar o que eu quis dizer; e não enche).
Enfim, naquele fatídico dia eu deveria escolher entre o que mais gostava, Charles, e a minha fortuna, conseguida à duras penas com muito suor e trabalho. Ela, uma ladra, incompassiva, incompreensiva, pessoa sem coração, quase que uma ditadora, muito malvada mesmo, estava com Charles no colo, acariciando o meu gato, amaciando a carne do bichano, um pobre coitado, para o posterior abate.

Faço uma pausa para uma piada: Era uma vez um rapaz que se chamava estiquistiquistambonazarambobarabarabitihipopoetiganioraetigamoca. Certo dia estiquistiquistambonazarambobarabarabitihipopoetiganioraetigamoca foi tirar água do poço para sua mãe. Um tanto desengonçado, estiquistiquistambonazarambobarabarabitihipopoetiganioraetigamoca jogou o balde dentro da água e acabou caindo lá dentro. Sem saber nadar, estiquistiquistambonazarambobarabarabitihipopoetiganioraetigamoca começou a gritar por socorro desesperadamente. alguns amigos de estiquistiquistambonazarambobarabarabitihipopoetiganioraetigamoca que passavam por ali ouviram os gritos e logo correram para chamar sua mãe. Ela, no mesmo minuto, como um tiro, foi correndo tentar salvar estiquistiquistambonazarambobarabarabitihipopoetiganioraetigamoca, que já começava a agonizar no poço de água, que, além de fundo, era sujo e cheio de bichos (Eles moravam em uma região muito pobre, leitor, água lá era como ouro. Mas não fique com dó de estiquistiquistambonazarambobarabarabitihipopoetiganioraetigamoca, ele era uma pessoa como todas as outras, colocada neste mundo para lutar e para sobreviver, não pode ser tratado de maneira diferenciada. Na verdade, não tenha dó de ninguém, continue como está, o mundo não precisa da sua ajuda, as coisas estão tranquilas). A mãe de estiquistiquistambonazarambobarabarabitihipopoetiganioraetigamoca chegou no local dois minutos depois de ter saído de casa. Chegando lá, sem nem mesmo pensar, gritou: estiquistiquistambonazarambobarabarabitihipopoetiganioraetigamoca, segura a corda!!!!!!. Não adiantou o esforço, o rapaz morreu. E Não foi somente pelo afogamento. Na verdade, foi por causa do tamanho do nome. O tempo entre a mãe falar estiquistiquistambonazarambobarabarabitihipopoetiganioraetigamoca e jogar a corda foi suficiente para ele morrer (sem graça, não, leitor? Mais sem graça ainda é essa cara que você está fazendo!!!! já disse: não enche o saco.).

Acordo do sonho. Olho para o lado, minha esposa estava lá, dormindo ainda, bela como sempre. Charles, na caminha, roncava com um leão. Levanto-me devagar para não acordar nenhum dos dois; vou até a cozinha, pego uma faca de serra e dirijo-me de volta ao quarto. Empunho a faca, seguro Charles e com uma única tacada enfio a arma em seu peito, matando-o na hora. Parto em direção à minha esposa. Do mesmo modo que fiz com Charles, mato-a. Ela não sofreu, morreu na hora.
Pronto, a fortuna estaria protegida daquela maneira. Nem Charles nem a esposa dariam trabalho um dia caso decidissem se separar de mim. Agora só faltava achar um jeito de esconder o crime. É o que estou fazendo até agora.

Nenhum comentário:

Postar um comentário