Saí de lá com a cabeça inchada. Ela tinha me rejeitado, jogado para escanteio, e pior, me trocado por outro. Ele chegou de fora, novo, uma pessoa maravilhosa, ela dizia; e por isso fui trocado. Perguntei várias vezes o porque, implorei para que ela não fizesse aquilo, mas foi em vão. De um dia para o outro, ela me largou, me deixou para as traças.
E as traças chegaram, me pegaram de cheio, uma atrás da outra. Fui devorado. Uma vez que minha tristeza era imensa e a fraqueza dos meus ossos não suportava nem mesmo o peso das minhas dores, fui estraçalhado, destruído, imobilizado pelos vermes.
Tentei voltar para a amada, mas era constantemente rejeitado. A negação de seu pedido era como a chuva que molha o semi-árido: a gota evapora antes de chegar ao chão. Era assim: os minutos de atenção que ela me dava eram subitamente substituídos pelos golpes certeiros desferidos sem pena nem piedade.
Me dava conta aos poucos da dor de ser rejeitado por aquela que me deu vida em um momento que eu tanto precisava, aquela que me salvou de não ter ninguém. Era tão insuportável a sensação de desamparo que busquei de todas as maneiras me libertar: drogas, cigarro, álcool, além do sexo. Vivi uma vida de cão.
Até que um dia resolvi abrir mão daquele sofrimento que tanto me atormentava. Olhei para um lado, olhei para o outro, mas não achei saída. Continuei me sentindo rejeitado, trocado, humilhado. E ela, como sempre, com um olhar de desprezo. Era ela, minha nação, meu país, que me abandonava e jogava para as traças de novo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário